segunda-feira, 13 de julho de 2015

Corre o ano de 2015 - II

Na fila de espera para o Lux vê-se de tudo. Especialmente agora que as noites estão quentes. Turistas e lisboetas. Alguns parolos. Parolos turistas e parolos lisboetas. E Hipsters. Também eles turistas, também eles lisboetas. Somos quatro. Todos gajos. Todos com poucas hipóteses de entrarmos assim. Ninguém conhece o porteiro. Mais uma vez não somos os cool kids de nenhuma canção que entram a dar hi fives alegres. Mas nunca fomos barrados. Temos esse orgulho. Na fila à nossa frente uma miúda conta aos amigos com quem está a vez que não conseguiu entrar. Acabou de cometer o harakiri social, ninguém admite que foi barrado para entrar na Lux. Se já se foi, mente-se. Com todos os dentes que se tem na boca. o João acabou de ligar o tinder, estabelece a distância para menos de um quilometro para encontrar matches. O Francisco pensa numa forma de entrarmos sem problemas.

O João está desempregado. Vive em casa dos pais e do subsídio do desemprego. Estudámos juntos no liceu. Ele tirou história. Ninguém tira história, mas ele tirou. Desempregado desde sempre de qualquer coisa a ver com história. Teve alguns trabalhos, explicação, call center, e, até, empregado numa zara. Agora está desempregado depois de ter estado a trabalhar numa empresa de trabalho temporário que o tinha colocado numa seguradora. Nunca nos conseguiu explicar o que lá fazia. Nunca nos conseguiu explicar porque foi despedido. O Francisco está empregado. Trabalha numa sociedade de advogados. Odeia o que faz. Diz que faz por dinheiro. O dinheiro que não tem tempo para o gastar. E nem é assim muito. É um pequenino burguês deste século. Mesmo que isso implique viver num T1 em Odivelas. Mas diz que já tem mais que o pai na nossa idade. O pai tem um café em Alverca. Mas o tipo tem duas coisas: confiança e optimismo. E é ele que nos mete hoje dentro da Lux.

Estaciona um táxi e saem três miúdas. O Francisco assobia e chama-as com o braço. Com um descaramento abraça-as. São italianas. Não se conhecem mas o Francisco faz as apresentações. Mexe muitos os braços. Parecem os portugueses que antes do 25 de abril iam a espanha e achavam que sabia falar espanhol. O meu avô era um deles. E minutos depois estamos lá dentro. Luzes e as cadeiras enormes. Música alta. Miúdas giras e tipos com pinta de surfista. Estão na moda novamente. São eles que levam as miúdas todas. Talvez metade nem faça surf. Mas todos parecem o catalogo da Ericeira Surf Shop. Mas desconfio que tenham sorte, levam miúdas no braços. Com tops reduzidos e mamas proeminentes. O Francisco está na varada a partilhar um cigarro com a italiana mais gira. Partilham também beijos. Tem a noite feita. O João teve um match, vai ao último piso. Vejo uma típica consultora. Saia lapis e salto alto. Cabelo preto (ou será das luzes?) e parece sorrir-me. Talvez seja porque vim direito. ainda estou de fato, mas sem a gravata. Testo o efeito Barney. Mas passa uma miúda de vinte e poucos. Cabelo numa pequena trança. Calças de ganga de cintura subida e top branco que deixa antever uma barriga fina e aprisiona as mamas. Há coisa pior para lixar a cabeça de um tipo que tesão? Nunca conheci um tipo que não cedesse. Olha para a consultora. Olha para a miúda. As minhas fichas vão para a miúda.    

1 comentário:

CAP CRÉUS disse...

Gostei de ler :-)
Abraço