terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Quarto de Hotel

Fui dois dias ao Porto. Fui em trabalho. Dormi num hotel. Num quarto vazio sem ninguém. Quente do ar-condicionado. Onde dormi cercado por paredes onde quartos ao lado alguém dormia também e outros se amavam. Fui de carro. Lisboa ao Porto são algumas horas de caminho. Ouve-se rádio. Fazem-se alguma telefonemas. Para-se numa área de serviço para café. E quando se chega, o tal quarto de hotel, vazio e impessoal. Tantas pessoas já passaram pela cama onde nos iremos deitar.
 
Gosto de ir ao Porto. Mas detesto ir em trabalho. Não o trabalho em si. Mas por ter de lá ficar. Sozinho. Naquele quarto de hotel. Aquele quarto é a solidão. Porque aquela cidade não é a minha. Ainda que goste dela. Ainda que passeia à noite. Ainda que tenha companhia para jantar, acabo sempre por regressar. Ao quarto. À solidão. Atravesso aquele corredor e com o cartão magnético abro a porta para o nada. Para ninguém.
 
Hoje levantei-me quando o iPhone tocou. Mas já tinha acordado antes. Porque me esqueci de fechar os estores. E a claridade do Porto, por  entre as nuvens, tinha-me acordado. Tomei banho e desci para o pequeno almoço. E sozinho, numa mesa, ao lado de tantos anónimos de fato, comi. O meu pai ligou-me nesse momento. Perguntou como estava. Disse que estava bem. Pelo meio disse-me que tinha ido passear. Mas nunca é. É apenas um quarto de Hotel vazio que nos recebe.
 

1 comentário:

Lia disse...

Vou ao Porto este fim de semana. Sozinha. Não vou em trabalho mas também me espera um quarto vazio e impessoal. Que eu espero usar pouco. Porque, felizmente, tenho amigos capazes de me segurarem na rua.