quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O dia em que conheci Lobo Antunes



Ele era um velhinho com ar carrancudo. Um pouco de cara feia. E eu um puto. Ele com uma vida cheia. Eu apenas cheio de sonhos. Tirei o livro da prateleira dos livros do meu pai. Uma edição de uma das colecções que fazia. Subi as escadas e fechei a porta do meu quarto. Li. Voltei a colocá-lo na prateleira. Com um casaco de malha azul grossa estava ali. Parecia mais um que estava sentado nas mesas da feira do livro. Mas assinava livros. Um velhinho de ar carrancudo e cara feia. Mas de sorriso a quem entregava um livro. "Como te chamas?", perguntava. Um puto. Se fosse eu, seria a resposta. "Toma lá puto". "Obrigado. Sabe, gosto de escrever". "Não gostas nada, achas que gostas". Se calhar tem razão. "Conheces África? Não? Então não conheces nada". Se calhar tem razão. "O que sabes fazer?" "Nada, não sei fazer nada". "A primeira resposta honesta que ouvi". "Obrigado". "Toma lá". Afastei-me e abri a capa. "Para o Puto, que não sabe fazer nada, mas que sonha". Fechei a capa e fiquei ali a olhar para fila. Ele assinava livros.  

3 comentários:

S* disse...

Carrancudo ele é... mas também parece decente. :)

E disse...

Parece que a escrita dele tem sabedoria.

o mesmo de sempre. disse...

é rei o Lobo Antunes.